O acidente e a manutenção
Por tonicato
miranda
Curitiba,
03.10.2024.
Pedem-me
para relatar o meu acidente com a bicicleta. Vamos lá.
Estava
feliz. Afinal me preparei para o evento. Estava ocorrendo na capital federal do
Brasil o Fórum Mundial da Bicicleta, junto com o Bicicultura – celebração da
magrela para cidades que investiram na promoção do transporte mundialmente
sustentável. Na noite anterior fui a Abertura dos dois eventos, no icônico Cine
Brasília. Por lá encontrei vários ciclistas conhecidos e amigos.
Acordei
cedo. Às 7h 45min peguei o aplicativo “99” para ir até o Setor Sudoeste
(correspondente a bairro nas cidades tradicionais), numa loja para pegar a
bicicleta elétrica que havia alugado na tarde do dia anterior. O dono, com quem
acertei o aluguel, não estava por lá. E acabaram me entregando a bicicleta
errada. Como ela era uma bicicleta elétrica também, saí com ela.
Logo depois
de dois minutos de pedaladas a bateria acabou. Tive de subir a longa rampa
pedalando no pedal sem qualquer ajuda. No entanto, a inclinação era pequena no
Setor de Indústrias Gráficas. E fui assim até chegar ao Memorial do JK, na
Praça do Buriti. Daquele local desci descansado pelo canteiro do Eixo
Monumental da capital do País. Passei pelos icônicos prédios do Sérgio
Bernardes, pela Torre de TV, pela fonte luminosa, e comecei a descida para a
Rodoviária.
Mas...de
repente, a cerca de 20 km/h, catapultamos eu e a bicicleta. Uma queda terrível,
que me deixou no chão, logo assistido por duas boas almas que passavam
próximas. Não sei de onde surgiram esses dois samaritanos. Após me acalmar,
pegaram meu celular, ligaram para minha filha que mora em Brasília. Ela, em
pouco mais de meia hora, estava comigo, levando-me ao Hospital de Base. Por lá
fiquei, até que me deram um coquetel de soro, morfina e me liberaram para ir
para casa da mãe.
Não vamos
detalhar mais. Isto pouco interessa. O fato é que fraturei a terceira vértebra,
uma das lombares e bati feio um dos rins. Terrível. O que me lembro? Segundo
disse um dos meus samaritanos, bati num degrau de cerca de 8/10 (oito a dez)
centímetros de desnível, voando-me com a bicicleta para o céu azul, onde nesta
época nada voa: nem passarinho, nem besouro. Eles, abrigados da secura e do Sol
intenso que começa a nos dar “Bom Dia!” já às 6h da manhã.
Passados
vinte e oito dias do acidente, após ser cuidado por uma enfermeira centenária,
que é minha própria mãe, estou agora em casa, em Curitiba. No entanto, um outro
amigo envia-me uma reportagem sobre a intenção do governo local.
Fiquei
sabendo que o governo local disse que vai ampliar a rede de ciclovias do
território federal em 325 km. Fará investimentos de R$123 milhões nessas obras,
até 2026. Ora, ora, meu caro governador, antes disso faça manutenção na rede
existente, evitando acidentes assim como o meu. Corrija o que está errado e já
se deteriorou. Não faça como a maioria dos investimentos na mobilidade
motorizada.
E o amigo
D’Olho, sempre atento, me diz:
—— Mas se ele fizer manutenção, onde o administrador vai ganhar alguma comissão? Manutenções geram poucos dividendos: financeiros e eleitorais.
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